
Projeto vocacional do Regional Sul 4 da CNBB articula dioceses, paróquias, famílias e juventudes em uma ação integrada pela cultura vocacional no Ano Jubilar.
Projeto Padres para a Igreja em Santa Catarina e em que ele se diferencia de outras iniciativas vocacionais?
O Projeto Padres para a Igreja em Santa Catarina é fruto de uma constatação eclesial e, ao mesmo tempo, de uma esperança compartilhada pelo episcopado, em uma reunião do Conselho Regional de Pastoral (CRP). Fatores como a senilidade, a diminuição de vocacionados nos seminários, a sobrecarga dos poucos sacerdotes disponíveis para assumir a missão evangelizadora em nossas comunidades e a situação real da sociedade hodierna revela uma crise vocacional. Diante disso, o Regional Sul 4 da CNBB, após atento processo de escuta e análise pastoral, assumiu esse projeto como um caminho concreto para promover e fortalecer a cultura vocacional em nosso Estado. O diferencial dessa iniciativa está justamente na sua dimensão regional e no envolvimento direto de todo o episcopado com suas arquidioceses e dioceses. Inspirados pelas palavras de Jesus — “A messe é grande, mas poucos são os trabalhadores” (Mt 9, 37-38) —, o projeto não se restringe à promoção vocacional isolada, mas busca uma articulação mais ampla, orgânica e colaborativa entre arquidioceses, dioceses, paróquias, famílias e comunidades, com o objetivo de criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de uma autêntica cultura vocacional. |
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Qual o significado do lema “Ele é a nossa esperança” e como ele se insere no contexto vocacional e do Ano Jubilar?
Porque todos somos “peregrinos de esperança”, e estamos prontos a ouvir este chamado, estamos a caminho, a nossa confiança está firmada em Jesus Cristo. O lema traduz a certeza de que nEle se fundamenta toda vocação e missão da Igreja. A esperança no Senhor motiva nossa oração e fortalece a confiança de que, mesmo diante dos desafios vocacionais do nosso tempo, Deus continua chamando e enviando trabalhadores para a sua messe. O lema também nos recorda que a missão vocacional não se sustenta somente pelo desejo humano, ela é graça de Deus, dele vem toda iniciativa, ele chama – o homem na liberdade responde e segue peregrino ao seu encontro. uma autêntica cultura vocacional. |
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Por que a oração é considerada o pilar mais urgente entre os cinco que sustentam o projeto (oração, chamado, formação, divulgação e corresponsabilidade)?
Os cinco pilares do Projeto Padres para a Igreja em Santa Catarina – oração, chamado, formação, divulgação e corresponsabilidade – estão profundamente interligados. Eles não são etapas isoladas, mas dimensões complementares de um mesmo caminho. Cada um deles foi cuidadosamente pensado para dar uma resposta concreta à esperança que carregamos neste projeto. No entanto, se fosse preciso destacar um pilar mais urgente para o nosso tempo, seria a oração. É dela que tudo parte. Precisamos dobrar os joelhos e abrir o coração diante do Senhor, pedindo que Ele envie operários para sua messe.
Como a realidade do envelhecimento do clero tem impactado o planejamento pastoral nas dioceses catarinenses?
Os dados mostram claramente o envelhecimento do nosso clero, o que exige uma resposta concreta e urgente por parte de todos: bispos, presbíteros, consagrados e leigos. Diante da realidade e dos desafios a enfrentar, é necessário dizer que somos profundamente gratos e reconhecemos o incansável esforço dos nossos sacerdotes, que, mesmo na senilidade, continuam se doando com zelo, amor e fidelidade nas muitas comunidades eclesiais, casas de formação, institutos de vida consagrada. Isso é sinal de que a vocação é, ao mesmo tempo, dom e compromisso: vem de Deus, exige uma resposta generosa e perseverante. A constatação dos dados numéricos, elencada no projeto, nos interpela como Igreja. Sabemos que não podemos permanecer onde estamos; é preciso “passar para a outra margem” (cf. Mc 4,35), fazer a travessia com esperança, fé e ação. E é isso que estamos buscando: um novo horizonte vocacional, com estratégias pastorais mais ousadas e articuladas. É o nosso caminhar, como povo peregrino, que tornará essa esperança uma companheira insubstituível, que nos permite vislumbrar a meta e seguir adiante com coragem. Rezemos com gratidão pelos nossos sacerdotes, que gastam a vida pelo Evangelho, e acolhamos com entusiasmo e solicitude aqueles jovens que, movidos por uma esperança que não decepciona, desejam oferecer suas vidas ao serviço de Cristo e da sua Igreja. |
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De que forma a transversalidade vocacional pode ser aplicada na prática das diversas pastorais e movimentos?
A transversalidade é compreendida como um fio condutor que une todos os serviços, ministérios, pastorais e movimentos em um só caminho: o de promover a cultura vocacional de forma integrada e participativa sem perder o horizonte da sinodalidade. É convite para que toda a vida da Igreja assuma, com consciência e responsabilidade, a tarefa vocacional. A transversalidade, não significa uniformidade, ela é unitiva. Esse eixo transversal nos inspira a sonhar os sonhos de Deus para a sua Igreja. Ele nos impulsiona a olhar para os jovens com esperança, ajudando-os a escutar e discernir. |
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Como os leigos, especialmente os jovens, podem se tornar protagonistas na construção de uma cultura vocacional viva e participativa?
O laicato, com destaque para juventude, devem ser os primeiros entusiastas do peregrinar com esperança neste ano jubilar. O papel ativo destes no projeto passa pelo entusiasmo, pelo acompanhamento e testemunho das vocações em nossas as comunidades. Nas expressões juvenis a Igreja possui um tesouro. Eles com a sua criatividade, liberdade e sabedoria são sinal concreto de que vale a pena dizer sim. O Projeto Padres para a Igreja em Santa Catarina propõe que os leigos se envolvam ativamente e de fato sejam protagonistas de uma fecunda cultura vocacional. Em nossas comunidades eclesiais jovens e leigos que vivem o seu batismo devem ser integrados à pastoral vocacional e no cotidiano ser presença amiga e motivadora.
Por que a cultura vocacional nas famílias continua sendo um desafio e como o projeto busca fortalecê-la?
Esta insegurança somente será superada pela oração constante. A cultura vocacional nos lares é um desafio a ser vencido, talvez o mais urgente. No contexto atual não temos mais famílias numerosas. A possibilidade de que um filho ou filha possa dedicar sua vida inteiramente ao serviço da Igreja ainda causa surpresa, insegurança e em muitos casos resistências. A contracultura moderna, a falta de sentido para vida, a busca frenética por segurança, estabilidade tomam o lugar do discernimento da vocação. Contudo, a família continua sendo o primeiro espaço de escuta, amadurecimento e cultivo da fé. É nela que a vocação nasce e cresce com naturalidade, principalmente se os valores cristãos forem vividos com alegria, testemunho e coerência.
Qual o papel da identidade visual na comunicação da proposta vocacional com os jovens?
A identidade visual do Projeto Padres para Igreja em Santa Catarina une a profundidade simbólica e simplicidade visual — assim como acontece no processo de descoberta de uma vocação. A criação da identidade visual é fruto do trabalho sensível da artista Jonara e do Pe. Alexandre Amorim e Pe. Jean, promotor vocacional da Diocese de Tubarão. Como a própria arte, muito do que a identidade visual comunica vai além das palavras: toca o coração, desperta a sensibilidade. É assim também com a vocação: Deus alcança a cada ser humano de forma única, silenciosa e pessoal. |
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Fonte: Arquidiocese de Florianópolis