Douglas da Silva Silveira, MSC
Jesús Castellano escreve em sua obra Liturgia e vida espiritual que o simbolismo é a expressão da pessoa que celebra a partir de bases humana, bíblica e eclesiológica. A nível religioso, o ser humano se realiza na liturgia eclesial mediante a múltipla e rica expressão do simbolismo. A plenitude do encontro recíproco entre o ser humano e Deus é desenvolvido a partir dos sinais e dos símbolos produzidos pela ação litúrgica. A linguagem dos símbolos está profundamente enraizada na natureza humana e, portanto, as pessoas se comunicam entre si e entre Deus por meio deles.
A vida religiosa está repleta do simbolismo que manifesta toda a evolução do encontro ao Deus desconhecido e salvador. Cristo também mergulhou no mundo dos símbolos para revelar a face de Deus-Pai e do pleno cumprimento da missão do ser humano. Hoje, a Igreja continua a manifestar a pessoa de Jesus Cristo por meio dos sinais visíveis que Ele deixou. São vários os símbolos litúrgicos que tornam visível a comunicação com Cristo. Na liturgia, tanto as ações corporais como os símbolos adquirem um sentido transcendente, ou seja, são transformadas para a antecipação da redenção salvadora.
A liturgia é expressada por meio de símbolos e atinge a dois níveis muitos significativos na existência humana: o nível psicológico, para atingir o que se espera, e o nível antropológico-cristão que, a partir da celebração, faz com que o ato se torne terapêutico e curativo.
Todos os símbolos cristãos são engajadores, pois compromete a fidelidade e convida a celebrar na existência quotidiana o que é expressado na liturgia. O sinal celebrado expressa, pelo menos, o desejo de viver assim, por mais que às vezes fique desmentido pelo comportamento das pessoas. Por isso, o Simbolismo Litúrgico tem que ser contínuo e ciclicamente repetido, para ser confirmado e atingido.
Os sinais litúrgicos são um exemplar para todo cristão. A imagem gerada no ato de batizar, por exemplo, é significativamente um exemplar da contínua morte e ressureição para os catecúmenos e neófitos que receberam no dia do seu batismo a causa eficaz deste sacramento.
Assim, uma outra função do simbolismo é manter, ao longo da vida do cristão, o profundo significado que os sacramentos revelam. A causa eficaz é recebida por apenas uma única vez, mas a imagem de cada ato sacramental ajuda a recordar o que o cristão é convidado a vive-lo quotidianamente. No lava-pés, Jesus executou um ato do qual Pedro não podia compreende-lo. Contudo, Jesus revela que o sinal praticado por Ele não era tanto para ser compreendido, naquele momento, mas vivido como parte unificante do mistério de Sua missão.
Os Símbolos Litúrgicos, impregnados na liturgia, realizam o múltiplo diálogo da salvação que atinge a integridade humana em sua corporeidade, em seus sentimentos e em suas ressonâncias psicológicas profundas. A Igreja nos convida a celebrar com os cinco sentidos para escutar, cheirar, ver, contemplar, saborear e tocar todas as dimensões do Corpo de Cristo. O intuito é sempre mais unir-se a Deus na pessoa de Jesus. Ele deu a si mesmo e deixou os sinais sacramentais que, por meio de ações, devem ser realizados em seu nome, como seu memorial e como seus atos pessoais, mediados pela Igreja e pelos seus ministros.
Além dos sinais centrais, constitutivos dos sacramentos, existe uma constelação de sinais sacramentais para preparar e explicar os iniciados na fé. Como, por exemplo, nos ritos do catecumenato, nos escrutínios, nas entregas de sinais de fé, do pai-nosso, nas veste brancas, na vela acesa, dentre muitos outros.
Com todo o corpo acolhemos e respondemos a Deus. Com as mãos elevadas para a oração, o humilde gesto de ajoelhar, a prostração em alguns ritos, o modo sóbrio e recolhido de estar sentados ou em pé, venerações com a cabeça ou com outras partes do corpo, o caminhar processionalmente etc. Tudo expressa a graça da comunhão com Deus e da celebração do mistério de Cristo. Um dom que chega a nós por meio da riqueza dos sinais. Com a gestualidade confessamos que tudo é graça na visibilidade.
O simbolismo reúne tudo o que a fé e o amor expressam, para proclamar a partir do culto a resposta visível ao Deus invisível. Por tanto, é preciso respeitar a verdade dos sinais litúrgicos sem camufla-los, devolver a expressividade aos sinais que a perderam e integrar novos sinais e expressões simbólicas que possam expressar melhor a nossa resposta e a celebração dos acontecimentos humanos e eclesiais, sempre mantendo um grande equilíbrio e simplicidade. O simbolismo litúrgico nunca deve perder a dignidade, sobriedade, beleza e solenidade, para que se tenha uma autêntica celebração e se abrir ao Deus que fala ao nosso coração.
Na liturgia também é possível viver uma autêntica experiência espiritual por meio dos sinais. Isso requer uma especial sensibilidade ao Simbolismo Litúrgico, pois o sinal sacramental comunica mais do que conseguimos assimilar. Uma vida centrada na liturgia é a chave para compreender todo o Simbolismo Litúrgico. O dom de Deus supera toda nossa experiência. Por isso, nossos gestos de fé e de amor, realizados por meio dos sinais visíveis, podem dizer muito mais do que aquilo que, talvez, no momento, estamos sentindo conscientemente. Assim como o dom de Deus é total no sacramento, nossa resposta também quer atingir a mesma intensidade e verdade, mesmo diante das limitações humanas.
Captar a função do Simbolismo Litúrgico, em nossos tempos, não é uma tarefa fácil porque isso não acontece sem problemas e sem esforços. Nossa participação ritual passa por períodos de aridez. É exigido de nossa sensibilidade uma purificação para passar de uma experiência para uma contemplação litúrgica. Para que a função do Simbolismo Litúrgico atinja o seu máximo efeito no ser humano, a sensibilidade deve evoluir para uma interiorização litúrgica que assume, partindo de dentro, palavras e símbolos e os personifica e os recria com a atitude contemplativa. Esse processo deve ser vivido com humildade e perseverança.
Além do mais, a aridez também pode ser espiritual. Quando os sentidos, as palavras e, talvez, o espírito não consegue dar conta daquilo que se deseja em Deus, os sinais litúrgicos e os gestos rituais vêm em nossa ajuda para expressar externamente o que não conseguimos dizer nem interiormente, mas que gostaríamos de dizer. Por meio da sacramentalidade da função do Simbolismo Litúrgico encontramos toda nosso relação humana-social inserir-se continuamente em Deus. A repetição contínua, as vezes monótona, dos sinais sacramentais, nos garante nossa fidelidade temporal a Deus até o dia de nosso encontro, sem véus, na glória eterna.
Por fim, a função do Simbolismo Litúrgico é expandir. Deus se expande quando se revela a nós por meio de símbolos e o ser humano se expande para chegar mais próximo de Deus. Este é o efeito que pode ser gerado através do Simbolismo Litúrgico. Sua função está na capacidade de ser um intermediário entre a coisa e a essência criadora que se comunica. O Simbolismo Litúrgico é sacramental e quer ser um ponto de acesso ao desconhecido. Deus se esconde no símbolo, mas se revela dentro de nosso coração. Melhor do que compreender a Deus é senti-lo com toda nossa dimensão humana e se entregar a Ele totalmente. Pela graça de Deus, acessamos a Ele por meio do símbolo, pois Ele está acima dos nossos pensamentos e sentimentos, do tempo e da história, está fora e dentro de nós.
Fonte: CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas, 2008.